Saúde mental da mulher: saúde mental da nova vida

A gestação é um momento único na vida da mulher. Cada uma lhe traz um sentido pessoal, um significado, uma razão, um milagre. Para muitas, é o momento inesquecível da vida. E para que toda gravidez aconteça da melhor maneira possível, a mulher passa por diversas mudanças no corpo, na mente e na sua relação com o meio, tornando-a capaz de manter o crescimento saudável do bebê e prepará-la física, emocional, espiritual e socialmente para criar um novo ser humano. Essas mudanças incluem: alterações bruscas hormonais como, por exemplo, os ciclos do estrógeno, da progesterona e da ocitocina; alterações corporais como aumento das mamas, aumento abdominal e mudanças em circuitos cerebrais; e alterações mentais e emocionais como aumento do estado de alerta, aumento do senso de cuidado e proteção e maior disposição ao vínculo (direcionado, principalmente, ao bebê). 

Foto: grooveriderz / Freepik

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Em algumas mulheres, essas mudanças ocasionadas pela gestação podem desenvolver sentimentos e emoções não tão agradáveis, como sintomas de ansiedade e depressão. É importante lembrar que isso, a princípio, não é sinal de uma doença ou que há algum problema com a gestante.

“Neste momento, todas as emoções são válidas e não há um “certo ou errado” em como se sentir. ”

Vale sempre a observação de como tais sentimentos estão “incomodando” ou “atrapalhando” a vida da mulher e como podemos ajudar nisso. Uma condição conhecida como maternity blues, ou blues maternal, caracterizada por sintomas ansiosos e depressivos leves, com limitação de até 2 semanas após o parto, ocorre em grande número das puérperas mas, a princípio, é autolimitada, sem trazer grandes prejuízos a mãe ou ao bebê. Porém, se estes sintomas ansiosos e/ou depressivos se tornarem mais intensos e duradouros e influenciarem de forma negativa na forma que a mãe cuida da criança e/ou de si mesma, talvez seja o momento de procurar ajuda profissional.

A depressão pós-parto, que pode começar inclusive antes do parto, ocorre quando a gestante ou puérpera apresentam sintomas depressivos semelhantes a depressão de qualquer pessoa fora da gestação, como tristeza, irritabilidade ou falta de prazer (anedonia), associado a alteração de sono, apetite, pensamentos de culpa, dificuldade de concentração, ideias suicidas e até sintomas psicóticos, como alucinações e delírios! Se não identificadas e tratadas corretamente, estas alterações podem atrapalhar o desenvolvimento físico e mental da criança, além de tornar cada vez mais graves as alterações emocionais e psicológicas da mãe, afetando o vínculo com o bebê e até a formação da sua personalidade. 

Mulheres que já apresentaram anteriormente depressão em qualquer momento da vida, ou depressão durante uma gestação, ou ainda depressão em algum período pós-parto têm de 2 a 5 vezes mais chance de desenvolver a depressão pós-parto. Devemos também ter atenção às mulheres passando por momentos difíceis e estressantes durante a gravidez ou no pós-parto, como brigas conjugais, dificuldades financeiras, baixo apoio de amigos e familiares e situação de imigração, pois estas situações também são grandes fatores de risco para desenvolver a depressão pós-parto.

Por isso, é muito importante estarmos atentos à saúde mental de todas as mulheres, principalmente no período de gravidez, para identificarmos rapidamente qualquer alteração que esteja prejudicando, incomodando ou atrapalhando sua forma de viver e de se relacionar com o bebê.

“O tratamento precoce da depressão pós-parto visa eliminar todos os sintomas depressivos e restabelecer uma boa e equilibrada saúde mental à mãe o mais rápido possível. ”

É essencial procurarmos ajuda quando necessário! Pois além da recuperação da mãe, isso pode fazer uma grande diferença no futuro da nova criança que está se desenvolvendo!

Como pedir ajuda?


As mulheres devem buscar ajuda primeiramente, sempre que possível, com familiares e amigos mais próximos, que possam entender suas angústias e sofrimento emocional. Estar vinculada a um serviço de saúde do SUS, como no programa Estratégia Saúde da Família, na “Rede Cegonha”, ou em ambulatórios especializados no atendimento à saúde da mulher, ou em serviços de saúde privados, com acompanhamento de pré-natal, ou ainda num próprio serviço especializado em saúde mental, são maneiras eficazes para a mulher poder trazer suas dores psicológicas, ser acolhida e tratada de maneira adequada. 

O tratamento da depressão pós-parto pode variar conforme a gravidade do caso entre outras variáveis, mas a princípio é baseado em psicoterapia e, em alguns casos, também com o uso de medicamentos antidepressivos. O seguimento é feito geralmente por alguns meses, mas depende de cada caso. Alguns tratamentos podem interferir na amamentação do bebê, mas como a amamentação também é muito importante para o vínculo entre mãe-filho e crescimento físico e mental do bebê, isso deve ser discutido com uma equipe de saúde profissional. 

“A depressão pós-parto não tratada pode ter consequências terríveis tanto à mãe quanto ao recém-nascido, podendo abalar de forma irreversível o vínculo entre ambos.”

Não podemos permitir que uma condição com tratamento bem estabelecido interfira dessa forma em nossas vidas e no nosso futuro! Por isso, lembrem-se: a qualquer alteração emocional atípica ou incômoda, procurem ajuda! Isso pode salvar gerações!!

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Ricardo Feldman 

Formado em Medicina em 2011 e em Psiquiatria em 2015 pela Santa Casa de São Paulo atua no diagnóstico e tratamento dos diversos transtornos psiquiátricos, focando na melhora da qualidade de vida, da sensação de bem-estar e do equilíbrio físico, mental, social e espiritual.