Psicopatia e Sociopatia

Qual a diferença entre sociopatia e psicopatia?

R: A psicopatia e a sociopatia são vistos de uma forma geral como sinônemos que significam a mesma condição mental chamada transtorno de personalidade antissocial ou dissocial. Por outro lado alguns especialistas afirmam serem conceitos parecidos mas diferentes, acrescentando ao psicopata (ou sociopata) outras características específicas como insensibilidade, falta de empatia,  manipulação e charme superficial, nem sempre presentes no transtorno de personalidade antissocial.

Como os médicos conseguem constatar essa diferença?

R: O diagnóstico destas condições se faz a partir: da história do indivíduo (onde já na infância é possível encontrar alguns traços do transtorno, como brigas na escola, maltrato a animais, roubos); da observação de como se apresenta, pensa, interpreta e se relaciona atualmente com os outros, onde características como irritabilidade, impulsividade, falta de remorso e irresponsabilidade podem ser identificadas; e da utilização de questionários padronizados que visam traçar as características de personalidade mais marcantes do indivíduo.

Este tipo de transtorno impede que a pessoa tenha empatia?

R: Este transtorno prejudica a capacidade dessas pessoas em terem empatia, ou seja, em se colocarem no lugar do outro e assim “sentirem na pele” o que estariam sofrendo se fossem as vítimas.

Pessoas com esses transtornos possuem as emoções básicas citadas por Paul Ekman?

R: Alguns estudos sugerem que os psicopatas possuam uma deficiência para reconhecer nos outros as emoções básicas citadas por Paul Ekman. Com as emoções não sendo reconhecidas o psicopata “não sente” ou “não aprende” que a sua atitude antissocial foi reprovada pela outra pessoa, não gerando culpa ou necessidade de mudanças, levando a repetir seus atos de desrespeito.

Esses transtornos afetam a memória? E isso dificultaria a empatia?

R: Não há evidências de que esses transtornos levem ao prejuízo da memória assim como não estão claras as razões para a sua falta de empatia. Talvez um dos principais motivos para isso seja a dificuldade do reconhecimento das emoções vividas pelos outros.

 

Ter emoções é o que permite que haja identificação com as emoções alheias?

 

R: Os processos neuropsíquicos envolvidos no sentimento de emoções e na identificação das emoções alheias são muito complexos e ainda necessitam de muitos avanços para seu melhor entendimento. Não são apenas as nossas próprias emoções que participam deste processo, mas também a observação de expressões corporais, o julgamento, a memória afetiva, entre outros. Contudo é mais fácil sentirmos empatia por alguém que esteja passando por experiências e emoções que já vivemos, como na relação entre uma mãe e sua amiga que acaba de ter um filho, que por alguém vivenciando experiências estranhas a nós.

 

Em “The Feeling of What Happens”, António Damásio afirma que que faz alguém decidir sobre o que quer são as emoções. Então haveria uma emoção movendo as atitudes dos psicopatas?

 

R: Especialistas dizem que uma infância carregada de violência, abandono e abuso possa influenciar no surgimento do transtorno, levando o psicopata a “repetir” os atos que sofreu no passado em uma nova vítima no futuro. Mas não agem apenas para “serem maus”, mas sim para satisfazerem seus desejos, seus prazeres e conquistarem seus objetivos, como todos nós. A diferença é que eles não se importam com o sofrimento alheio ou com as regras a serem quebradas para isso.

Existe cura para estes transtornos?

 

R: Ainda é muito difícil se falar em cura para esses transtornos. Existem algumas propostas de tratamento na tentativa de se adequar ao máximo o psicopata às normas da sociedade, mas os resultados são desanimadores, existindo um alto índice de reincidência nos atos antissociais.


Porque serial killers são ligados a esses transtornos?

 

R: Os serial killers são frequentemente ligados a esses transtornos pois possuem várias das características dos psicopatas e representam uma parcela pequena porém extremamente grave desses transtornos.

 

Esses transtornos podem ser adquiridos ao longo da vida?

 

R: O surgimento desses trantornos está vinculado a fatores genéticos e ambientais, ou seja, tanto por herança familiar como pelas experiências que o indivíduo é submetido ao longo da vida em toda sua esfera biopsicossocial. Assim é possível que uma pessoa passe a apresentar comportamentos antissociais durante a vida. Porém é muito improvável que alguém inicie tais comportamentos após os 18 anos se não possuir traços sugestivos de psicopatia pregressos a esta idade.

 

Os filmes e séries procuram retratar personagens deste tipo, no entanto vilões como Dexter, o Coringa e Hannibal ganham a simpatia do público. Por que tais personagens parecem atraentes ao expectador?

 

R: A capacidade que essas personagens têm de agir com cautela e frieza para conquistarem seus objetivos é admirada pela público, cercado por angústias, conflitos e dificuldades para resolver seus próprios problemas. Além disso essas personagens possuem algo em comum: uma justificativa para cometerem seus atos condenáveis. Isso contribui em certo grau para que o expectador tenha menor desejo de punição e maior vontade de justiça com eles. Outra análise seria considerar a figura do anti-herói, que contraria o conceito Maquiavélico de “bom vs. mau”, onde é proposto que tanto o vilão como o herói possuam qualidades e defeitos como todos nós, não existindo um “melhor” ou um “pior”, gerando maior identificação com essas personagens.